A IA e o futuro do trabalho
A automação da sociedade é um fato e o advento de novas técnicas, como a GenAI, aumenta a discussão sobre o futuro do trabalho. Parece claro que o processo de transformação das profissões pela automação, que sempre aconteceu, está se acelerando. Como sempre, atividades profissionais poderão ser totalmente eliminadas (não temos mais cocheiros, telefonistas e datilógrafos), outras serão criadas, mas a maioria terá alguma parcela das suas tarefas automatizáveis. Que isso significa? Que as atuais profissões não desaparecerão totalmente, mas serão muito modificadas. O sistema educacional e os processos de contratação e retenção de talentos nas empresas precisarão ser revistos. Os skills de interação com sistemas como GenAI serão proficiências diferenciadoras.
As atividades profissionais demandarão em maior ou menor grau quatro habilidades: comunicação, pensamento, sociabilidade e habilidades físicas.
1) A habilidade de comunicação exige que as pessoas entendam o que as outras pessoas estão dizendo a elas, mesmo que não seja de forma direta. A IA já atua neste campo e como exemplo vimos primeiro os assistentes pessoais, como Alexa e Siri, e agora a GenAI como chatGPT. De maneira geral a tecnologia atual já está no nível dos humanos no tocante à compreensão da interação, com exceção de determinados contextos onde nuances linguísticos, sarcasmos e ironias ainda fazem com que os seres humanos tenham um nível muito maior de compreensão. As máquinas ainda se complicam com ironias e sarcasmos.
2) O pensamento, que varia de criatividade a pensamento lógico e racional. Em criatividade, improviso e imaginação os seres humanos ganham fácil. As máquinas são boas em buscar informações e reconhecer padrões conhecidos. Tem dificuldades em reconhecer novos padrões.
3) Nas habilidades sociais as máquinas perdem feio. Com IA você consegue reconhecer emoções das pessoas, analisando suas expressões, mas não tem ideia do que seja esta emoção. Com o treinamento, um algoritmo pode ser capaz de prever qual seria a expressão da audiência para determinadas cenas, antes que elas fossem projetadas, mas não “entende” o que é essa emoção.
4) Habilidades físicas. A destreza física é parte importante de algumas atividades profissionais e de maneira geral em muitas destas atividades os robôs poderão ser mais eficientes. As linhas de montagem robotizadas já mostram isso. As dificuldades estão em identificar objetos desconhecidos e movê-los em terrenos que não tenham sido mapeados anteriormente. E a flexibilidade das mãos humanas, por exemplo, ainda está distante das máquinas.
A rápida evolução da IA traz impactos tão significativos que ainda não percebemos sua amplitude. Não temos ideia de como será o mercado de trabalho em 2050, mas sabemos que a IA e a robótica vão transformar quase todas as modalidades de trabalho atuais, transformando as carreiras e profissões como as conhecemos hoje.
Qual será o papel da IA na sociedade? Os robôs substituirão pessoas? As pessoas que executam tarefas repetitivas poderão ver essas tarefas serem substituídas por robôs. Mas, o mais provável é que a IA venha a aumentar o desempenho humano, automatizando certas partes de uma tarefa, permitindo que os indivíduos se concentrem em aspectos mais “humanos” que exigem habilidades empáticas, sociais e inteligência emocional. No futuro próximo, trabalhadores e máquinas trabalharão em conjunto, cada um complementando os esforços do outro. As organizações de RH terão que desenvolver novas estratégias e ferramentas para recrutar, gerenciar e formar uma força de trabalho híbrida humano-máquina. É uma mudança significativa nas formas de como RH seleciona, contrata e avalia profissionais. Demanda uma redefinição das funções atuais e a acomodação de novas funções, que nem existem hoje no vocabulário de RH.
Dado a forma como os modelos de trabalho tradicionais, definições de carreira e o setor RH estão arraigados, a reengenharia do trabalho em torno da IA será um grande desafio. Vai demandar novas formas de pensar sobre empregos, cultura empresarial, tecnologia e, mais importante, pessoas. A IA está se entranhando na sociedade da mesma forma que os smartphones se entranharam na nossa vida. Surgiram como novidade, com o iPhone em 2007, afetaram no início alguns setores, destruindo os negócios de celulares de empresas sólidas como Nokia e BlackBerry, e depois se espalharam transformando todas as nossas atividades diárias. Hoje permeia nossas vidas e é quase que um órgão do nosso corpo. Nada fazemos sem eles. A IA vai se entranhar da mesma forma. Começou com algoritmos de recomendação, se insere nos apps que usamos e aos poucos vai fazer parte da nossa vida. Com a GenAI interagimos com sistemas de IA diretamente do nosso smartphone. Estaremos lidando com essa tecnologia de todas as formas no nosso dia a dia, de tal forma que no futuro ela será invisível. A capacidade de ouvir, refletir e criar é que vão tornar a função humana diferenciada.