Os 70 são os novos 50…que venham outros desafios!

Cezar Taurion
7 min readDec 28, 2019

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Hoje é o meu 70˚aniversário. Quando tinha lá uns 20, chegar aos 70 era algo tão distante como chegar ao ano 3020! Mas, dia a após dia, cheguei. Lembro do início da carreira, nos CPDs de mainframes 360/370. Tempos onde a inovação tecnológica dos computadores era aguardar a nova linha de mainframes IBM. 4341, 4381, 3090…Softwares que marcaram história como Cobol, PL/1, IMS, Adabas…Vivenciei várias ondas tecnológicas. Dos mainframes à computação cliente-servidor, às aplicações Web, mobile, cloud computing e agora já visualizamos edge computing e quem sabe, quantum computing?

Das telas de fósforo verdes 3270 ao Alexa e Google Home. Dos programas batch em Cobol e Assembler às redes neurais, que hoje motorizam os algoritmos de deep learning. Enfim, tempos bem vividos.

Passei por empresas simbólicas como Shell, Chase, PwC e IBM. Em 2013, uma pivotada. Sair do mundo corporativo e mergulhar de cabeça em um território que começava a ser explorado: startups e organizações exponenciais. Nestes últimos anos muitos novos desafios foram batalhados, muitos deles vencidos e outros deixaram sua marca como aprendizado. Sim, aprende-se com os nossos erros. Muito orgulho de estar junto com Rodrigo Quinalha na Kick Ventures. De ser mentor, investidor e membro do conselho da DataH com Evandro Barros e os gênios da IA que gravitam em torno desta startup. De ser presidente do i2a2 (Instituto de Inteligência Artificial Aplicada). De ser professor convidado da Fundação Dom Cabral, PUC-RS e agora PUC-RJ. De ser palestrante e instigador em IA e transformação dos negócios pela revolução digital. De fazer parte do conselho de inovação de algumas empresas de grande prestígio. Sim, tudo isso conquistado com dedicação, perseverança e resiliência. Mas compensou e é recompensador.

E, claro, aos 70, novos desafios. Nova onda para surfar. Ao lado do amigo e sócio João Gubolin, estaremos lançando no primeiro trimestre de 2020 uma nova empreitada. A versão 2.0 da Ciatécnica, que faz 10 anos e simbolizando esta marca, criamos quatro unidades de negócio que, acredito, se tornarão referência. Elas são a Ciatécnica Consulting, a Ventures, a Executive Education e a Solutions.

Na Ciatécnica Consulting, enfatizamos través de um modelo de parceria, a criação de uma comunidade de consultores de 50/60+, aqueles profissionais de altíssima experiência e grande capacidade intelectual que o mercado não valoriza. Sim, fala-se muito em preconceitos de etnia e sexo, mas deixa-se de lado um que atinge a todos indiscriminadamente: a idade! A Ciatécnica Consulting aglutina estes profissionais, criando uma comunidade de prática, oferecendo todo o suporte de backoffice, vendas e gestão de projetos. E por que criamos a Consulting? Mais uma consultoria no mercado? Não! Temos outra percepção. O mercado de consultoria, com seis ou sete décadas de existência é dominado por algumas grandes corporações de prestígio, um número bem maior de médias e pequenas, a maioria sem diferenciação, atuando muitas vezes em nichos restritos, e consultores independentes, muitos dos quais são consultores como alternativa enquanto esperam recolocação no mercado. Consultoria é um negócio human-driven e o crescimento de uma organização depende de agregar e contratar consultores para suas equipes. A receita ainda é gerada basicamente em homem-hora ou per diem, com alternativas de value-based pricing ou conectado a resultados ainda são incipientes. Além disso, com a rápida evolução tecnológica e as mudanças aceleradas nos contextos de negócio, as recomendações propostas pelos consultores após longos e demorados estudos, saem praticamente obsoletas.

Grandes projetos de consultoria, com tempos longos para serem executados, já não são aceitos pelo mercado. A demanda está concentrada em projetos de curta duração, com resultados tangíveis. Com isso as consultorias devem entregar soluções end-to-end de forma rápida e muitas vezes serem criativas nos modelos de faturamento, adotando alternativas que se relacionam com os resultados atingidos. Modelos que compartilham riscos para ambos os lados e não mais apenas para os clientes.

Entendemos que devemos adotar um modelo diferente, que denominamos “network-based”. A consultoria contrata consultores independentes, na base projeto a projeto, diminuindo significativamente os custos fixos das consultorias tradicionais e repassando esta diminuição aos custos dos projetos. Para manter os consultores agregados e com sentimento de pertencimento, cria-se uma comunidade onde os consultores, tem acesso a troca de experiências e acesso às informações de outros consultores ou gerados pela própria consultoria. Criamos uma prática de geração de conteúdo para continuamente prover a comunidade de material relevante para atualização tecnológica, além de webinars frequentes. A gestão da comunidade é feita por Community Managers que buscam manter o engajamento de cada consultor com a Consulting.

O modelo de “gig economy” como praticado pelo Uber e outras iniciativas é a inspiração, mas fica claro que não podemos ter o alto “churn rate” que esta modalidade provoca, e, portanto, precisamos criar e manter um alto nível de engajamento e espírito de pertencimento. A criação de comunidades e a contínua oferta de atualização para os consultores é parte essencial do projeto. Além disso, os consultores não precisam dedicar esforços às atividades de back office e até mesmo as de vendas. Eles podem se concentrar no projeto em si. No caso de vendas, ele pode ser chamado para projetos diretamente ou se envolver no processo de vendas, em que atue ou não, tendo comissionamento pelos projetos que tragam à bordo. Também isso abre oportunidades para ele alavancar projetos além de sua capacidade de expertise e atuação, pois tem uma equipe de consultores como reforço. A comunidade se engaja através de uma plataforma própria e exclusiva.

Nós não temos produtos ou soluções prontas. Analisamos cada demanda do cliente e identificamos qual melhor caminho a ser seguido. Identificamos dentro do pool de consultores quais os que melhor se adequem ao projeto (tipo de negócio, tecnologia envolvida, região geográfica, etc.) e os consultamos para disponibilidade. A gestão de comunidade tem um mapa das alocações e da disponibilidade, mas cada consultor disponível tem opção de não aceitar participar do projeto. Como os projetos são diversos, não adotamos metodologias únicas, mas usamos o conceito adotados nas competições de rally, onde os projetos são acompanhados na sua execução por marcadores, que indicam sinais de atenção. Estes marcadores fornecem informações sobre o andamento do projeto e os sócios e equipe executiva da consultoria fazem regularmente visitas ao cliente. Além disso existe mecanismo de comunicação direta do cliente com a equipe executiva para quaisquer anomalias encontradas.

Para ser um consultor da Ciatécnica o profissional tem que cumprir determinados critérios, como experiência e conhecimento, e passar por processo de avaliação. O perfil típico é de profissionais sênior, de 50/60+, basicamente ex-executivos e consultores com vivência em outras empresas de consultoria. Eles se concentrarão nos projetos, sem desperdício de tempo em atividades de back-office. Farão parte de uma comunidade de prática e terão acesso, via curadoria de conteúdo, a material que os manterá constantemente atualizados profissionalmente. Atuarão quando desejarem em projetos que estejam adequados à sua expertise. Desta forma conseguem balancear melhor a vida profissional e pessoal. Pela troca constante de informações através da comunidade, os consultores também estarão se atualizando, pois esta comunidade é constituída de profissionais das mais diversas experiências, sem serem doutrinados pelo mesmo pensamento.

Criamos também a Ciatécnica Ventures, voltada a startups early stage e mesmo negócios já existentes com uma oferta de CTO-as-a-Service. No caso de startups, entramos como sócios, através de tecnologia, assumindo o papel de CTO e a responsabilidade pelo desenvolvimento tecnológico de alto nível. É um investimento no negócio, pois passamos a ser sócios e responsáveis pela tecnologia, agregando dez anos de experiência em integração e desenvolvimento de sistemas complexos, ao capital relacional e intelectual de gestão. Smart Money na essência!

A criação da Ventures deve-se à constatação, após participar de dezenas de bancas de avaliação e atuar como investidor e mentor no mercado de startups, que a tecnologia é um gargalo na imensa maioria das startups, principalmente as que estão no early stage ou começando a tracionar. Muitas são constituídas por profissionais que conhecem o mercado e propõem uma solução que faz todo sentido, mas pecam pela falta de tecnologia. Em muitas o profissional de tecnologia é ainda júnior, um bom desenvolvedor, mas sem a experiência de arquiteto de softwares. Assim vemos startups que conseguem ter um bom MVP e até mesmo uma versão funcional para o início de suas operações, mas enfrentam grande dificuldade de crescer, pela falta de uma arquitetura que permita o crescimento e ao mesmo tempo, desempenho adequados. No mercado B2B vemos muitas startups com problemas de integração com os sistemas das empresas interessadas ou mesmo com outras startups que lhe sejam complementares em funcionalidade. A proposta do CTO-as-a-Service preenche esta lacuna. Desenvolve tecnologia de ponta e escalável, com arquitetura aberta e conectável pela exposição de funcionalidades via APIs, desde início. Permite, com esta arquitetura baseada em APIs e microserviços, a criação de “super apps” virtuais.

Assim, somos investidores, mas ao invés de transferência de dinheiro diretamente, assumimos a responsabilidade pela tecnologia, o papel de CTO e o consequente desenvolvimento e evolução da tecnologia em troca de equity, em uma análise justa de valuation. Por não sermos investidores financeiros, nosso compromisso com startup é de longo prazo e não uma busca do exit rapido.

Criamos também a Ciatécnica Executive Education, para ajudar a disparar o gatilho da inovação que está embutido nas empresas, mas muitas vezes reprimido por processos e modelos mentais engessados. Vamos ajudar a quebrar este gesso, incentivando o intraempreendedorismo, com ênfase na inovação colaborativa, com startups e outras empresas.

E, claro, fortalecemos a Ciatécnica original, que passou a ser Ciatécnica Solutions, responsável pelo desenvolvimento de sistema complexos, com dez anos de experiência no mercado. Ela é a responsável pela criação das soluções tecnológicas propostas pela Consulting ou solicitadas diretamente pelos clientes.

O que criamos foi uma plataforma que permite começarmos com as discussões estratégicas, desenvolver projetos de consultoria focados em inovação, desenvolver e entregar uma solução que funciona, e ajudar a transformar o modelo mental de executivos e profissionais. Integrar na prática empresas com o ecossistema de inovação e startups.

Sim, um novo e belo desafio, que ao lado das atuais e instigantes tarefas, vai me divertir muito. Verdade, há muitos anos que deixei de trabalhar para me divertir. Bem, lá vem a onda e vamos nessa! Que venha 2020!2030!

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Cezar Taurion
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