Você é rápido o suficiente?

Cezar Taurion
5 min readSep 30, 2019

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No cenário de negócios estamos vivenciando transformações cada vez mais rápidas e de maior amplitude. Um rápido olhar ao passado recente mostra quão impressionante é o ritmo das mudanças. Em 1995, há pouco mais de 20 anos, éramos 35 milhões de navegantes na Internet mundial. Hoje somos quase 4,5 bilhões, cerca de 60% da população mundial. Em mais uma década, com novas tecnologias como os satélites propostos pelo SpaceX poderemos ter a quase totalidade dos habitantes do planeta conectados. Atualmente, a cada dia um milhão de novas pessoas se conecta à Internet. Em 1995, 80 milhões usavam celulares. Hoje três em cada quatro pessoas do mundo tem um, ou mais de 5 bilhões. Em 1995, as quinze maiores empresas ligadas à Internet representavam na bolsa americana cerca de 17 bilhões de dólares. Hoje valem quase 4 trilhões de dólares, o que equivale ao PIB da Alemanha. O Google no seu IPO, de acordo com o Wall Street Journal, em 19 de agosto de 2004, tinha cerca de 2 mil funcionários, e não era muito mais do que uma ferramenta de buscas. O serviço de correio do Google, o Gmail, foi lançado posteriormente. Naquele ano, a receita do Google foi de cerca de US$ 3,2 bilhões. Em 2005, ele lançou o Google Maps, e a receita quase dobrou. Em 2006, a empresa adquiriu o site de compartilhamento de vídeos YouTube, e ultrapassou os US$ 10 bilhões de receita. Hoje em dia, o valor de mercado do Google é de cerca de US$ 750 bilhões. Sim, a velocidade realmente impressiona: o Facebook, criado em 2004, já em 2012 chegava a um bilhão de usuários e hoje está na casa dos 2,4 bilhões. Para efeito comparativo, a Igreja Católica tem 1,3 bilhão de fiéis. A própria Internet está mudando rápido: hoje já é móvel. 96% dos acessos ao Facebook são oriundos de smartphones e tablets, e apenas 25% por desktops e laptops (usuários acessam por mais de um dispositivo).

A transformação digital está desafiando e criando rupturas em todos os setores de indústria, criando novos modelos de negócio e novas maneiras de fazer uma empresa operar. A magnitude desta transformação não pode, em absoluto, ser ignorada pelos executivos das empresas.

Talvez nem todos os CEOs tenham percebido a amplitude desta transformação potencial que está à nossa volta. As inovações tecnológicas evoluem de forma exponencial, permitindo a criação de novos e inovadores modelos de negócio que se chocam com os modelos estabelecidos há décadas. Disruptores digitais surgem cada vez mais rápido por uma simples razão: a distância entre uma ideia e a realização digital é agora tão pequena (e tende a diminuir continuamente), causada pelo baixo custo e pela facilidade de se construir soluções tecnológicas que mesmo um grupo de jovens com muito pouco dinheiro, e que não conhecem uma indústria podem criar um novo e bem sucedido modelo de negócios disruptor. O AirBnB e o Uber não foram criados por experts oriundos da indústria hoteleira ou de táxis. Nem o WhatsApp veio de dentro da indústria de telecom.

A razão é que a inovação vem agora do mundo do software e não mais do mundo físico. Assim, o custo e velocidade mudam completamente, criando um cenário inteiramente novo. No mundo físico dois fatores limitantes são o capital e a informação. Mas com o barateamento das tecnologias de desenvolvimento de software, a barreira não é apenas reduzida, mas simplesmente destruída. Pode-se a partir de um insight num Starbucks criar um app em poucos semanas ou dias, com o poder de mudar todo um setor de negócios. Com a rápida disseminação de informações (acesso a eventos como TED, Coursera, papers grátis e incontáveis grupos de discussão) e o custo zero de ferramentas de desenvolvimento (SDK- System Development Kits) podemos facilmente considerar que o custo de desenvolver uma solução seja pelo menos 10 vezes menor que há 20 anos. E pela facilidade de troca de ideias podemos ter 10 vezes mais inovadores circulando por ai, colocando sua imaginação em prática. O resultado? Pelo menos 100 vezes mais potencial de inovação disruptiva hoje que há duas décadas atrás. E daqui a dez anos provavelmente será 1000 vezes mais! Inovação disruptiva significa competição inesperada, de onde menos se espera.

O mundo digital é anabolizado pelo software e a fórmula da disrupção neste novo mundo é simples, mas devastadora. Disrupção = Pessoas com ideias digitais inovadoras + infraestrutura tecnológica barata (cloud computing, SDK, etc). Em cloud computing vemos uma competição agressiva chamada de “race to zero” onde os custos tendem a cair a zero. Isso mesmo, zero. Um efeito colateral é que a falha hoje é menos impactante. Como o custo de colocar de pé uma ideia é muito baixo, uma falha não pesa tanto quanto no mundo analógico. Não existem ativos a serem desmobilizados. Nem existe um data center, pois não faz sentido pensar em criar um data center para uma ideia digital. E nem precisamos mais adquirir licenças de software.

O desafio é que muitos executivos do mundo analógico ainda não perceberam o quanto isso mudará o mundo dos negócios. A ruptura digital não afeta apenas indústrias tipicamente digitais, como mídia e música, mas toda e qualquer indústria. O mercado, cada vez mais empoderado, é que determina o sucesso dos negócios. Os clientes valorizam custos (pay-per-use como exemplo), experiência (como autoatendimento, automação e personalização), e plataforma como marketplaces e modelos de economia compartilhada, exemplificada como Uber e outros. Podemos simplificar dizendo que o que puder ser digitalizado o será, o que puder ser compartilhado, o será e o que puder ser feito sem intermediários, o será. Uma consequência disso é o processo de desagregação de indústrias consolidadas, como bancos.

Qualquer que seja o setor de indústria, os CEOs devem perguntar a si mesmo: a) o meu atual modelo de negócios resistirá a tentativas de ruptura causado por um novo entrante nascido na era digital? b) esta mudança, se houver, será rápida, ou ainda me permitirá uma transição suave? e c) o que eu preciso fazer para transformar meu modelo de negócios atual e a cultura de minha empresa para me reposicionar no mundo digital?

Muito provavelmente a resposta será desafiadora. E que fazer? Antes de mais nada adote um mindset disruptivo. Entenda que nem sempre um profundo conhecimento de sua indústria o fará ser disruptivo nela. Provavelmente não, pois a tendência é limitar nossa criatividade aos limites atuais impostos pela indústria que conhecemos. A competição na sua indústria virá de outra indústria, e até de parceiros e clientes atuais.

Aliás, nem tem muito sentido as empresas de consultoria e a mídia ainda falarem em segmentos por indústria. Cada vez mais a competição é cross-industry, com os limites da competição e inovação entre as indústrias simplesmente deixando de existir. Uma inovação em uma indústria chega rapidamente a outra. E a disrupção em uma pode afetar de forma dramática outra completamente diferente. Alguém imaginou que uma Apple, fabricante de laptops, desktops e um tocador de música, o iPod, destruiria o valor de uma empresa fabricante de celulares tão sólida quanto a Nokia? Em tempo, a própria Apple destruiu o seu negócio iPod para entrar em um novo modelo, de streaming. Portanto, aja como um disruptor, antes que outro o seja. Pense que seu negócio estabelecido há dezenas de anos não garantirá sua sobrevivência nos próximos dez anos. E faça a disrupção no seu negócio antes que outro o faça. A sua indústria de hoje provavelmente não será a mesma de amanhã.

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